19.8.14

A ilha

Nós dois fizemos as contas. Da parte dela, decidiu que era hora de eu partir, e da minha parte, que eu a havia perdido. Porque, afinal de contas, eu nunca ia sair daquela ilha. Minha ideia era morrer por lá, completamente sozinho. Doente, depois de alguma queda, qualquer coisa. A única escolha que eu tinha, a única coisa sobre a qual eu tinha um mínimo de controle era quando, como e onde isso poderia acontecer. Então eu amarrei uma corda no alto para me enforcar, mas a corda arrebentou. Percebi que eu não conseguia sequer me matar, que eu não tinha nenhum poder, nenhum controle de nada. E soube que, de algum modo, eu tinha que continuar vivo. Continuar respirando. Mesmo que eu não tivesse mais muitos motivos para isso. Na minha lógica, eu jurava que jamais veria esse lugar de novo. E aqui estou eu, de volta. Onde nasci, falando com vocês. E eu a perdi completamente. Estou muito triste por não tê-la mais comigo. Mas muito grato por ela ter estado, de algum modo, comigo naquela ilha. E agora sei o que devo fazer: continuar respirando. Já que amanhã o sol vai nascer de novo. E quem sabe o que a maré pode nos trazer.

(monólogo adaptado por mim do filme Náufrago, com o Tom Hanks)

Nenhum comentário: