19.8.12

Morre Hirao, meu grande amigo

Neste domingo (19) recebi uma notícia muito triste. Roberto Hirao, o meu melhor amigo no jornalismo, morreu neste fim de semana.

Conheci o Hirao quando editei o livro que reunia 70 textos dele na Folha da Tarde, chamado "70 Lições de Jornalismo". Trabalhei junto com a Cleide Floresta, à época editora do caderno Show do Agora, e diretamente com o autor, que me ensinou muito mais do que aquelas 70 lições.



Ao longo das muitas páginas e da edição do livro, me tornei amigo do Hirao. Ele me ligava, mesmo falando com muita dificuldade e com uma voz extremamente baixa, para conversarmos sobre cinema, uma de suas paixões. Principalmente o cinema japonês. Muitas vezes a gente ia tomar um café ou comer qualquer coisa na cantina da Folha, que ficava no 10º andar do prédio ali da Barão de Limeira. Ele me contava muitas coisas e histórias do jornalismo, como o Miguel Arcanjo também relembra aqui, além de falar sobre detalhes de filmes etc.

Dei para ele dois filmes de presente: o "Zelig", do Woody Allen, e o "A Condição Humana", épico do Masaki Kobayashi com mais de 9 horas de duração, dividido em três partes. Lembro que, depois do presente, ele reviu o filme (um de seus preferidos) e escreveu uma crítica para a Ilustrada (pode ser lida aqui). Para um senhor com certa idade, com uma doença que dificultava funções básicas no jornalismo como falar e escrever, o texto era um presente para mim.

No lançamento do seu livro, cheguei atrasado no dia. Alguns colegas presentes no dia me contaram que o Hirao ficava perguntando pra eles: onde está o Thiago? E todos o confortavam dizendo que eu já estava chegando. Quando cheguei, vi o Hirao de longe com a família (que o ajudava a autografar os livros), e fiquei muito emocionado. A gente se abraçou, de um jeito meio atrapalhado, mas muito intenso. E fiquei com muita vontade de chorar no dia, choro que hoje não consegui controlar.

Jantei algumas vezes em seu apartamento em Perdizes. Conversávamos muito, ele me mostrava trechos de alguns filmes e alguns de seus cantores japoneses prediletos. Ele me mostrava detalhes do prédio, me apresentava os carros de alguns moradores ilustres, como o de Marcelo Rubens Paiva, "carro inteiramente adaptado pra ele poder dirigir", repetia Hirao.

Hoje é um dia muito triste. É o primeiro grande amigo que perco em minha vida.


2 comentários:

SUELY disse...

bonita homenagem, Thiago. Muito bom conhecermos mais detalhes sobre essa pessoa incrível que foi Roberto Hirao, elegante e discreto até o fim. Suely Furukawa

Thiago Blumenthal disse...

Obrigado pela leitura, Suely. O Hirao é especial demais.